Os últimos quadros de Abreu Pessegueiro são paisagens sem referente, despojadas do supérfluo, quase abstractas, permitindo-nos intuir uma certa metafísica desses sítios. O artista propõe-nos uma viagem a lugares de memórias antigas, numa espécie de revisitação por rememorações inquietas que o fascínio desses sítios evoca. São espaços arquitectónicos imaginários, em comunhão com o mar, onde a água e a luz se diluem em brancos e azuis imateriais que contrastam com a matéria rugosa e densa da terra. Para além da tela, o artista usa como suportes, a madeira e a organza, conferindo à pintura um carácter vincadamente tridimensional, permitindo-nos uma leitura transfigurada à medida que nos movemos à sua frente. A aplicação de tintas diluídas por vaporização, sobre madeiras ou organzas, contrapõe-se à abundante matéria dos cimentos acrílicos, como o vazio e os detalhes se contrapõem ao gesto contido. Liberto, ou quase, da contenção e rigidez que a geometria impõe, embora a sustente em termos estruturais, permite-se uma outra escrita na qual o sonho fala mais alto. Esta experiência é prova disso: Inquietante ou sedutora, dá largas à sinfonia, outrora contida, e assume-se como um convite que se quer partilhado. O fascínio desses lugares, ou sítios etéreos, está na sua própria transfiguração.